Muito
se tem falado sobre a especificidade do exercício para determinada modalidade,
um dos pilares do treinamento desportivo. Esse post colocará a importância
dessa especificidade, enfatizando até que ponto é vantajoso.
Quando
falamos em especificidade do exercício, isso diz respeito ao gesto que o atleta
desempenha para seu desporto ou posição, um corredor de rua por exemplo, não
terá o mesmo resultado no treinamento caso use uma bicicleta ergométrica no seu
treinamento quanto se usar os treinos de corrida propriamente ditos. Claro,
isso é comprovado por inúmeros estudos, a especificidade tem um papel
fundamental para o desempenho do atleta de alto rendimento. Mas e quanto ao
atleta que está ali com você na academia, amador, que não pode fazer um programa
de treinamento ideal, que muitas vezes já sofre com dores no joelho devido aos
impactos constantes, muitas vezes, ir com ele fazer treinos funcionais,
elaboradíssimos pode sim incentivar, mas o que o profissional deve ter em mente
é: será que adiantando esse processo de especificidade, você não está limitando
seu atleta?
Veja
bem: Imagine seu atleta e a 'reserva de potencial' que ele possui, essa reserva
de potencial é como se fosse uma pirâmide e seu atleta está na base dela,
larga. A largura dessa pirâmide diz respeito a variedade de estímulos que
trarão resultados satisfatórios a ele, a altura da piramide aponta a capacidade
de evolução de seu atleta.
Ou
seja, no início do programa de treinamento, em que seu atleta se encontra na
base dessa pirâmide, os estímulos mais simples terão o mesmo resultado que os
estímulos elaborados, utilizando todo seu acervo de estímulos nessa etapa seria
'queimar cartucho' a toa, pois um estímulo mais simples traria o mesmo
resultado e, adiantando esse novo estímulo, você pode estar tornando aquele
outro mais simples ineficaz para o atleta. Isso pode gerar uma limitação, com o
tempo, mesmo seu estímulo elaborado, perderá a eficiência e você terá que
buscar um novo de forma precoce. A eficácia do treinamento pode ser comprometida
por uma escolha precipitada do treinador.
Outro
ponto a se observar, é que muitas vezes quando se treina um atleta de
determinada modalidade, dessa vez deixando a corrida de rua de lado, levando
para a força: Um atleta do arremesso de peso ou de dardos.
Quando
se fala da especificidade do treinamento de força, temos que ser bem claros nos
seguintes pontos: o equilíbrio muscular, que diz respeito não somente a
hemilados do corpo, mas também a músculos agonistas e antagonistas e; à
harmonia do sistema músculo-esquelético.
O
equilíbrio muscular é importante pois, mantendo o atleta de arremesso de peso:
O mais importante para ele é ter a musculatura do seu gesto esportivo
trabalhado (Peitoral, Tríceps...), então, bastaria treinar eles e 'esquecer' o
resto do corpo, certo? Bom, então tá, treinaremos os dois lados, mas apenas dos
músculos do gesto específico. Bom, se nós somos da área da saúde, devemos
prezar pela saúde do atleta e nesse caso, lembrar de um ponto importante: qual
um dos fatores que facilitam a lesão muscular? O desequilíbrio muscular, que
não significa apenas ter o braço direito do mesmo tamanho ou com uma margem de
diferença 'saudável' do esquerdo, mas leva em conta a relação entre agonistas e
antagonistas. Mas você me pergunta: Qual a importância do grupo muscular das
costas e do bíceps para o atleta? A resposta é simples: O bíceps é um dos
responsáveis por 'frear' o movimento de extensão do cotovelo, que faz parte do
arremesso. Se o bíceps não tiver uma força suficiente para evitar o 'tranco' da
extensão que o tríceps treinado exerce, o resultado será inúmeros impactos na
articulação do cotovelo, além de uma possível lesão no próprio bíceps, que
tentou exercer uma força maior que a que é capaz de suportar. Resultado: atleta
de molho até melhorar da lesão no antagonista do movimento, sua periodização
indo por água a baixo e quem sabe até seu trabalho como preparador físico ou
treinador.
Quanto
a harmonia do sistema músculo-esquelético que foi citada é relacionada à
importância não somente dos principais músculos do gesto, pois todo o corpo deve se mover de forma harmoniosa para
que o gesto seja beneficiado não somente por uma pequena porção do corpo, mas
por toda a extensão do corpo. Um corpo deve ser treinado como um todo para que
possamos nos ater a uma pequena porção dele, pois o mais importante é que o
corpo esteja preparado para responder de forma ideal ao estímulo que lhe foi
solicitado, em especial quando falamos de atletas, em especial quando falamos
de nossos atletas, e acima de tudo, em especial quando falamos de PESSOAS.
Espero
que esse artigo postado no meu blog sirva de ajuda para muitos colegas da área,
para que possamos caminhar juntos na nossa valorização.
Agradecimentos:
ao Profº. Igor, que me passou boa parte desse conhecimento na minha época no
Núcleo de Estudos e Pesquisa da Aptidão Física- NEPAF (Laboratório de
Fisiologia do Exercício da FEFISA);
Ao
Profº. Ricardo Zanuto, ao Profº. Alexandre Romero e ao Profº. Waldecir Lima que
são meus professores da graduação de matérias importantes para a escrita desse
artigo acima.